Mordo um pedaço do tempo
Que de fato nem tenho
Sou o próprio verbo
Conjugado e escrito
Apagado e empoeirado
Na prateleira de um sebo
Sou o próprio papel em que escrevo
O lápis que se deita em meus dedos
Sou o poeta que não leio
As palavras que não falo
As que canto em pensamentos que berram
Sou o silêncio que traz o sono
Sou o tudo que desconheço
Sou os livros que me leram
A arrogância que desprezo
Às vezes eu mesmo, às vezes o outro
Ora avesso, ora in verso...
Tudo que seja descartável e eterno
Sou a distância entre este planeta
E o fim do universo