Nem tanto.
Quando se deixa apenas o sopro de vida
esvair-se com o tempo.
Difícil mesmo é manter a ternura
ardendo no peito.
As desilusões vão tomando conta do olhar
como um glaucoma que nos faz acreditar
não podermos mais acreditar
em nossos mais belos sonhos.
Difícil é quando se sabe já não ter mais
a vida inteira pela frente
e pior ainda quando perdemos a capacidade
de rir dos nossos próprios erros
de olhar palidamente para a nossa imensa imperfeição meliante.
Quando já não chegamos mais a inspirar a fumaça
da fonte das palavras como antigamente,
abrindo tanto os ouvidos que de certa forma os cerram
abrindo tantas pupilas que dessa mesma luz nos cegam...
...mas é aí que nesse exato momento me vem o seu castanho e meigo olhar
e eu já não me preocupo mais com tudo que tem tomado tanto o meu tempo...
Quadro Melancolia de Albrecht Dürer |
Conheço velhos infarentos, reclamões e frustrados, mas também conheço os alegres, cheios de vida e com boas histórias para contar. A vida é um processo intrigante, saber acompanhá-lo é fundamental para ter uma velhice brilhante, um coração vivaz e jovem para sempre.
ResponderExcluirLindo e reflexivo texto, querido Johnny!!!
Beijos!!!
Envelhecer não é tão difícil assim...
ResponderExcluirDifícil mesmo é manter a ternura do olhar
E o sopro de vida
Ardendo no peito...
As desilusões
Que vão tomando conta do olhar
Também se dissipam
No tempo...
E o que é a velhice?
O que é a vida inteira?
As estrelas que vislumbramos no céu
Há muito tempo estão mortas
Mas ainda os seus rastros de luz
Atravessam o universo...
E o que supomos nossos erros e acertos
São tão insignificantes
Diante de tudo aquilo que nos cerca
E que não compreendemos direito,
E é isso que de certa forma nos cegam...
E as palavras antigas
De nada nos servem
Para os sentimentos novos.
Hão de ser apenas
Monumentos eregidos no tempo
Que o vento corrói.
Olá Sr. Gabriel, quanta honra receber seu poema comentário!!! Pelo visto você entendeu mais que completamente cada detalhe do que tentei transmitir e isso, além de ser raro, me traz uma felicidade imensa.
ResponderExcluirMais que completamente é quando transcende, e a parte que transcende é que até detalhes do que senti antes da inspiração para escrever quanto depois de ler com mais calma o que escrevi estão inclusos no seu poema.
Por exemplo, sobre as desilusões, pensei em colocar esse aspecto neutro do tempo de "dissolver" tanto as frustrações quanto as alegrias, mas preferi colocar mais a visão negativista pois meu eu-lírico foi baseado em um professor muito ranzinza que conheço.
No caso das palavras antigas e a menção da fumaça é sobre viagens alucinógenas e sobre a inspiração que muda de textura quando amadurecemos, achei muito oportuno o trecho do seu poema que diz: "E as palavras antigas de nada nos servem para os sentimentos novos. Hão de ser apenas monumentos eregidos no tempo que o vento corrói" foi justamente o sentimento que tive após ler com mais calma hoje cedo o que escrevi ontem à noite. Era como se o tempo já tivesse corroído, e o que eu havia escrito já pertencia a um Johnny que eu já não era mais.
Abraços e mais uma vez obrigado pelas palavras.
Olá Johnny, pode chamar-me de Gabriel, sou da Troupe Drao e desenvolvemos projetos com poesia, performance e teatro. vamos continuar trocando. visite o meu blog. Um abraço. Gabriel Arcanjo.
ResponderExcluirNão agradeça as minha palavras
ResponderExcluirOu os meus pálidos pensamentos.
Tudo o que falo ou escrevo
É jogado no vento.
E alguns se perguntam:
A onde germinam estas sementes?
Talvez, elas germinem no tempo,
Num tempo que não mais existe,
Mas que ainda persiste
Como um eco sonoro
Preenchendo os espaços
há muito tempo vazios...
Fica então este parentesco
Entre o pensamento e o texto,
Entre o dito e o não dito,
Entre o que escrevo e o que medito,
Entre o que é efêmero
E o que é infinito.
Coloco aqui o comentário da Ná pois ela não estava conseguindo postar:
ResponderExcluirNossa! Eu havia escrito tanta coisa aqui, mas não deu certo. Bem, eu amei esse post, seus posts estão diferentes, estão lindos, estão tão maduros. Gosto deles, gosto muito deles. Lê-los faz bem, e esse especialmente me lembrou de uma amiga, conversavamos sobre um assunto parecido hoje. Sobre a ternura que vai morrendo dando espaço pra amargura. Mas eu não quero isso pra mim, eu quero envelhecer sem perder a ternura, sem deixar morrer a criança dentro de mim, quero ser jovem, mas sem desvalorizar a maturidade e a experiência. Quero viver cada instante, valorizar as estrelas e coisas simples, pequenas, quero amar as pessoas intensamente, a fazer a diferença. As mensagens dos seus textos, me fazem muito bem. Eu admiro você John, muito mesmo.
Parabéns! Postado por Nayelem 28/05/2011
Johnny, gostei muito desse seu post, alias é um dos melhores que já li seu. Vejo que você está encontrando novos caminhos para evoluir ainda mais sua escrita. hoje ela está mais simples e madura, mais palpável eu acho.
ResponderExcluirQue poema gostoso de ler, ele é sonoro, rítmico, de maneira que praticamente se canta ao ler.
Parabéns e que venham outros belos posts como esse.