domingo, 11 de dezembro de 2011

O Degrau da Ação

Nossos corpos moídos pelo fardo de um ano quase impossível
Nossa fé dançarina dos livros sagrados da nossa esperança
somos muito mais que carne e osso e sangue e suor e lágrimas
somos muito mais que os loucos berros de um febril desabafo


Este fardo às vezes (quase sempre) é maior do que suportamos
Mas lutamos e não será em vão as cicatrizes de nossas mágoas
Porque nossos corpos tornaram-se mais rígidos e mais resistentes
mas o coração mais terno, e mais dócil e humana a nossa alma


Não abaixaremos mais a cabeça por humilhação ou tristeza
Nem deslizaremos o olhar inseguro como réles derrotados
A humildade é o brasão tatuado em nosso peito
Os nossos erros e virtudes tantas mal compreendidos
Dividimos nossas culpas em nossos dons compartilhados



Já não mais importa o valor que nos derem (deram)
pois sabemos exatamente o que somos e quem fomos
no profundo mais profundo da nossa sã consciência
traz à tona o tom do mérito dos caminhos que vivemos

Depois de tanta luta o que temos a vos oferecer
é um corpo moído e uma alma eterna em capa dura
seja quem for que puder ou quiser ler

para além dos tempos que a ciência e a consciência permitir

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Um Inverno Dentro da Primavera

O vento movimenta as plantas que dançam
na música de um precioso silêncio.
Passos humanos em diversas direções
distantes de suas dimensões.
Pela sensibilidade de um verso perdido
dissolve a lágrima de um velho como um abraço.
Palavras atravessam o concreto e o tempo
pela humilde sabedoria de um suspiro.
Vento gelado dessa extensa natureza que respira.
Gotas do orvalho molhando artelhos tenros corações que meditam.
O verdadeiro tempo é a incrível condição da sutileza.
A capacidade de tocar um coração com um verso,
de mudar a direção dos olhos com um gesto.

Texturas que constroem novos sentidos.
Pela cegueira eterna dos novos tempos.
Surdez alienante de ecos extremos.
Ilusões pregadas em novos templos
qualquer coisa a menos que o bom senso.
Fé diluída em bules de corações sangrentos.

Se podes ver enxerga, repara, reflita.
Na poesia que há em cada grão da vida.
Caindo na ampulheta que eternamente gira.
Se podes ver ouça com desvelo, absorva, entenda e reflita.
Quanta cegueira há em todos os sentidos,
pelo excesso da contemplação superficial de cores fétidas.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Nota do Tempo de Uma Gestação

Nove meses foi o tempo aproximado que Ele definiu para presentear os casais com uma nova vida. E assim, por diversas gerações, almas ímpares nasceram complementando seus novos pares. Amadurecem virtudes regadas de cuidado, carinho e respeito. Suculento fruto que será colhido e saboreado. Há ainda, aqueles que o contam como se quisessem apagar o brilho das estrelas em seus bolsos. Outros que jamais contemplarão diálogos com a Via Láctea. Indiferentes aos invejosos, e gratos aos sábios, fazem de cada vitória a oportunidade de comunhão e de sagração espiritual, seja com presentes simbólicos, seja com o simples voto de amor e amizade. Abençoadas gestações intensificam sonhos de solidificar ainda mais a conquista. Quando Deus permite, a providência é apenas uma sutil e doce consequência da natureza.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Rumo a 5ª Dimensão

Para estrear minha postagem, ao invés de falar do passado,

vou tentar contar a história dos meios de comunicação com um olhar futurista,
me baseando nos processos de hibridização dos meios de comunicação atuais
e projetando as possíveis evoluções desses meios na sociedade.

Para escrever este texto, utilizei primeiramente a inspiração de três livros
que me influenciaram muito nessa projeção futurista, são eles:
"Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley, publicado em 1932;
"1984" de Geroge Owell, publicado em 1949 e por último o conto
"O Scanner do Tempo", do livro "O Pássaro Raro",
do filósofo norueguês Jostein Gaarder, publicado em 1986.

É possível dizer que estes autores não escreveram esses livros
baseados em metodologia científica,
ou em algum esquema cartesiano de filosofia onde pudéssemos "provar"
a existência da realidade que eles projetaram em seus livros.

Porém para falar sobre a cultura humana de maneira acessível
para quem realmente deveria interessar (os próprios humanos)
foi preciso não seguir essas regras metodológicas
e falar de uma forma às vezes até descontrolada e emocionalmente intensa,
mas nem por isso deixando de utilizar argumentos sólidos
de quem conhece profundamente de perto a evolução e a condição humana.

O que estes três livros têm em comum é que eles
projetam a evolução humana
através da observação
das evoluções tecnológicas de suas épocas.



Huxley, ao escrever seu livro no início da década de 30,
teria sido provavelmente influenciado pela Revolução Industrial
que ambientou sua vida em meados do século XVIII
e pelo auge do desenvolvimento tecnológico das comunicações à distância,
como o telégrafo e telefone (segunda metade do Séc. XVIII) e o rádio (no início do século XIX).



O escritor George Owell, além de crescer ambientado pela invenção da TV,
teve a infância e a adolescência marcada pelas duas grandes Guerras Mundiais,
ele expõe em seu livro a influência política
que os meios de comunicação de massa passam a adquirir na sociedade,
e prevê também uma política absolutista
numa sociedade superdesenvolvida tecnologicamente.


A falar sobre o Big Brother (O Grande Irmão) ele previu como a sociedade ficaria dependente da imagem e de que forma isso seria um meio de controlar e alienar a sociedade.



O escritor Jostein Gaarder,
acaba sendo muito ousado também em seu conto "O Scanner do Tempo"
ao descrever de forma positivista e esperançosa a história da humanidade,
como se fosse um espírito vindo do futuro,
falando sobre invenções e descobertas científicas,
que mudariam completamente a condição humana.

Como Jostein Gaader está ambientado nos acontecimentos mais importantes de nossa época,
vou me limitar a falar mais sobre algumas questões que ele aborda no seu conto,
temas como o uso da TV, do Celular, do Computador e da Internet.

O grande conflito no conto do Jostein Gaarder é a descoberta do “Pleroma”.

O “Pleroma” seria uma descoberta científica que permite o homem a enxergar tudo que aconteceu na história do nosso planeta simplesmente ao digitarmos a longitude, a latitude e as datas e horas correspondentes com momento que a gente gostaria de ver como aconteceu.

Trecho do livro:



"Já no século XVIII, o matemático francês
Laplace fantasiava a existência de uma
inteligência que conheceria a posição de
todas as partículas de matéria num
determinado momento. Para essa
inteligência, nada seria 'desconhecido, e
o futuro e o passado se descortinariam
diante de seus olhos'.
Essa inteligência que Laplace
imaginou existe de verdade. Nós a
chamamos de pleroma — muito embora
ela não seja mais inteligente do que um
banco de dados.
Em 2105, Abdullah Rushdie
comprovou que todos os acontecimentos
do Universo são armazenados no
pleroma. De lá eles também podem ser
recuperados.
Quinze anos mais tarde, em janeiro
de 2120, já era construído o primeiro
protótipo de seu scanner do tempo.
O mundo ficou paralisado de
espanto. Com a ajuda dos dois
sintonizadores, agora era possível
desvendar todos os enigmas da história
que ainda não haviam sido solucionados.
Todos os acontecimentos da história
mundial podiam ser trazidos para a tela.
Não na forma de vídeos, filmes de época
ou documentários, não, diretamente do
palco da história."

A Internet já é um meio que se aproxima muito desse conceito do “Pleroma”.
Após a chegada da Internet há também um grande divisor de águas
na relação dos meios de comunicação com o homem.
A medida em que há uma interatividade e acessibilidade cada vez maiores destes meios, o mercado de publicidade e propaganda passa a ter recursos
cada vez mais dinâmicos, eficientes e horizontais de pesquisa em comunicação.

Os meios portáteis de comunicação,
como o rádio havia sido no final da década de 70,
e o celular está sendo agora,
tornam híbridos os quatros principais meios de comunicação
e de conhecimento desenvolvidos pela raça humana.

Hoje é possível ter acesso de um celular à literatura com os E-books,
o jornal (cada vez mais empresas disponibilizam parte do conteúdo na internet), o rádio (agora com o MP3, o consumidor cria sua própria playlist)
e a Televisão (que também está passando pelo processo de hibridização, com a nova tecnologia digital).

Será que há um limite para toda essa evolução ?!?!?

A primeira questão que o Jostein Gaarder levanta sobre o nosso futuro
é a partir do ponto de vista da essência de nossa própria natureza.
Logo no primeiro parágrafo do conto, ele já especula a sobre o limite da evolução humana fazendo a seguinte pergunta para o leitor:


"para que sairíamos (de casa), se toda a vida se passa entre nossas quatro paredes?"


é uma pergunta que parece simples, mas há embutida nela um conceito muito importante para entendermos o futuro da nossa espécie. Lá no final do conto Gaarder volta a fazer uma pergunta, com um sentido parecido, porém de uma forma mais abrangente:

"Para que se deveria, em meio a grande ausência de limites, colocar a todo custo um limite qualquer?"

Para tentar explicar o conceito dessas perguntas, vou exemplificar com a pergunta que eu fiz para o professor Marcio Rodrigo na disciplina de comunicação comparada:

"Será que se o homem não houvesse criado extensões do corpo através das ferramentas, ele não criaria em seu próprio corpo extensões mais eficazes? (A sola do pé mais resistente por exemplo, daí não precisaríamos de sapatos como extensão do nosso corpo).

Tentarei esclarecer ainda melhor dando outro exemplo:

De todas as coisas que evoluímos, as que evoluíram em menor ritmo foram as que estão diretamente ligadas às nossas necessidades físicas, como os talheres, os vasos sanitários, os fogões, as geladeiras, etc...

A partir disso dá para entender que o nosso limite é a nossa própria natureza.


Outro exemplo:

Na entrevista que o Professor Luli Radfahrer, Ph.D. em comunicação digital pela ECA-USP, cedeu ao programa Trip FM veículado na Rádio Eldorado FM, ele sobre essa questão de uma forma muito simples, mas que pode ditar um dos caminhos que iremos seguir a partir dessa limitação da natureza que ainda temos.

A diminuição dos teclados de computadores, segundo ele, na evolução tecnológica do computador, já chegou no limite do tamanho que as nossas mãos ficam à vontade para digitar, ou seja, nesse caso o nosso limite seria o próprio tamanho de nossas mãos.

Recentemente em jornais de tecnologia vemos que na verdade os novos computadores com a tecnologia do touch screen (toque na tela) poderiam substituir futuramente o teclado atual que conhecemos, há ainda pesquisas envolvendo o acesso aos menus do computador através de reconhecimento de voz, apesar dessas novas tecnologias ainda estarem em desenvolvimento, não é difícil imaginar que ainda inventaremos uma interface de acesso aos computadores através de eletrodos sem fio que fixaremos em nossas cabeças, daí nem das mãos nós precisaremos mais, pelo menos não para isso.

No Capítulo Consciência Arbitrária, Jostein Gaarder se difere determinantemente do pessimismo do Huxley e do Owell em relação aos meios de comunicação, talvez por já pressentir ou enxergar o quanto os dias do monopólio desses meios de comunicação estavam contados
com a chegada do novo meio que revolucionou a nossa época, a internet.

Com a chegada da internet, caiu por terra o paradigma de Jackobson,
o muro que dividia as relações entre emissor meio e receptor.
A interatividade fez o fluxo de informações se tornar horizontal e bidirecional.

Gaarder conta como a TV chegou em seu auge após unir os principais meios de comunicação, podemos até fazer uma comparação com a entrevista do Professor Radfahrer, quando ele fala sobre o Skype e outros tipos de softwares gratuitos, a partir desse ponto duas grandes questões passam a ter que ser reavaliadas pela sociedade, primeiro a questão dos direitos autorais e segundo a questão da técnica não poder mais ser comercializada, pois sempre haviam pessoas dispostas a disponibilizar gratuitamente aquilo que antigamente todas as outras empresas cobravam.

Com a chegada da interação entre emissor e receptor, aos poucos não se podia mais diferenciar quem era o emissor e quem era o receptor. Essa mudança fez com que a humanidade tivesse que readaptar conceitos como o dos direitos autorais e depois até das leis de propriedade privada.

É notável que os novos meios de comunicação foram criando sempre novos paradigmas para a sociedade, estamos vivendo cada vez mais numa velocidade de evolução em que a grande maioria das pessoas não consegue acompanhar. O meio ambiente se torna cada vez mais competitivo e hostil, as pessoas se tornam cada vez mais individualistas e desumanas. O processo de evolução em geral prioriza a técnica e desvaloriza o as relações humanas. O conhecimento cada vez mais passa a ser mais importante do que sua utilidade orgânica. Em meio a tantos que precisam provar que são os melhores e sem muito tempo para argumentar e dialogar profundamente sobre as questões da vida deixo aqui um pergunta ousada e inocente:

Precisamos provar nossos limites para nós mesmos ou para o resto da humanidade?

Talvez o pessimismo de Huxley e Orwell não tenha sido totalmente em vão,
porém temos que considerar que a natureza, e diferente da maioria dos filósofos do nosso tempo, incluo a humanidade e a cultura da humanidade como parte dessa natureza, novamente tem a função de equilibrar as consequências da nossa evolução.



Postado por Johnny Nogueira dos Santos no site:
http://radioetvunisa.blogspot.com/2009/04/rumo-5-dimensao-para-estrear-minha.html



Referências Bibliográficas:

Pierre Levy o Ciberespaço
http://books.google.com.br/books?id=7L29Np0d2YcC&pg=PA79&lpg=PA79&dq=Pierre+levy+O+Termo+interatividade+%C3%A9+muitas+vezes+invocado&source=bl&ots=ggSCCFXxgj&sig=veaLS3yJRM8vH7UfvqxK-kEOWyw&hl=pt-BR&ei=IjrWSd-aAoHCtweM8NHiDw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2#PPA77,M1


Pierre Levy A interatividade vista como problema
http://www.scribd.com/doc/4625879/A-Interatividade-Vista-Como-ProblemaLEVY

Midia interativa? por que não o celular
http://radioetvunisa.blogspot.com/2009/03/midia-interativa-por-que-nao-o-celular.html


A Propriedade Intelectual na Era da Internet
http://www.ime.usp.br/~is/papir/direitos/direitos-dgz.html


Propriedade intelectual na era digital
http://www.ime.usp.br/~is/papir/direitos/direitos-dgz.html


Reflexões sobre o futuro da propriedade intelectual
http://www.ime.usp.br/~is/papir/direitos/direitos-dgz/node4.html



Lulli Radfaher
http://www.luli.com.br/


Entrevista na Rádio Eldorado com Lulli Radfaher
http://int.territorioeldorado.limao.com.br/eldorado/audios!getAudios.action?idPrograma=64

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Compartilhando Solitários Sonhos

Eu penso que sei da febre que apugenta os corações
da solidão que rasga o peito quando não entendemos
os explícitos motivos dos caminhos que percorrem nossos passos

Amanhã não seremos mais os mesmos
nem daqui a pouco eu sei, ou talvez penso
que pode haver uma razão para tudo isso
para essa eternidade constante que habita cada segundo

Uma saudade enorme dos cheiros daquela juventude
em que a responsabilidade era vaga e desconhecida
quando os preços não nos doiam na cabeça
nossos medos de não ser suficiente apenas uma vida
para conquistar aqueles loucos solitários sonhos plenos

E quando desce amarga a lâmina das escolhas
levando toda a segurança para o espaço
enforcando a razão com mãos de gigante
há apenas aquilo que somos em essência

Mas um pouso de borboleta abre os olhos
como se fosse um gole à vida que atormenta
nossas veias vão pulsando insatisfeitas
martelos de diamante da rotina que arrebenta
brindando o intransponível muro da imaginação
de todas as vãs lamentações que pensam
pesam nas pálpebras de nossos sonhos arredios
brilham as espadas das irradiantes estrelas

Anos-luz atravessando o escuro espaço
nas solitárias explosões em nossos seios
passado distante de todos os futuros antes
liberdade contida condensada ao desprezo
instinto selvagem que aniquilamos moralmente
por todos os ópios óbvios pelo tempo
ignorando a dor essencial e latente
para enfraquecer os músculos do espírito
e redobrar os círculos dos passos do caminho

Eu sei, ah eu sei que certos sonhos são utópicos
mas como sentir sua textura nas mãos,
todas as cores dos cheiros da memória
tudo que em 26 anos foi imutável
o amor pelo que se pode aprender com um verso
fragmentos de canções como a verdade em cacos
mas se não vemos face a face o que temos
é a odisséia de reconstruir cada pedaço
desse épico que é o amor e a vida
e a possibilidade de transformar e compartilhar palavras
que voam eternas além do vento e dos tempos

Escrito ao som de Wilco / Impossible Germany  http://sharebee.com/c1679f87




Foto adaptada do site: http://www.flickr.com/photos/fabio_dsp/2891232392/

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

8 Deitado é igual à Infinito

É tanto amor que o coração explode em lágrimas
Derretendo o frio no calor dos corpos que se abraçam
Beijos sedentos e sadios; palavras sussurradas
Aos delicados pés de ouvido
e orelhas furadas que acariciam
Vibramos o mesmo ritmo, nos mesmos passos
Dançando ao som do doce acalanto que cantamos
Cada abraço é a certeza da nossa construção de laços
Inquebrantável são as forças que reafirmam os nossos sonhos
Constante fonte de inspiração e esperança que transpiram

A cada superação dos esforços que já não mais nos cansam
Alcançando as conquistas invisíveis dos nossos dias
Virtudes abstratas escondidas a cada solução encontrada
Nas asas macias de pecados pedaços de anjos feitos de Deus
No dia sagrado em que ungiu e uniu o meu caminho ao seu
E alçando o espírito em um vôo alado ao seu lado eu vou
Sentindo o infinito em um oito deitado um poema presente te dou
Não há o que eu faça que me satisfaça em fazê-la feliz
A matéria do mundo é tão limitada comparada ao amor
Que despertou em meu peito quando li os seus textos
e encontrando a mim mesmo, descobri quem eu sou...

Parabéns pelos 8 meses!!!
Te amo muito minha grande pequena!!!



 

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Jane

Jane acreditava que vencer a morte era só não se apegar, que seria bem mais forte se não aprendesse a amar, mas todo o tempo ocioso que pedia trouxe-lhe a reflexão, que na verdade a correria da cidade deu-lhe cicatrizes irrecuperáveis...

Desde cedo aprendeu que ler era a melhor forma de não deixar que ninguém a enganasse, aprendeu que a sabedoria é algo que está muito mais relacionado à sensibilidade do que à razão, porém quando veio a primeira morte de alguém muito próximo à ela, não havia mais razão, nem sabedoria, nem mais nada que a segurasse em segurança, e o acúmulo de tanta informação obtida nos diversos livros que lera a trancaram num casulo em que se torturava como se dissesse à Deus:

"Se o Sr. existe mesmo, venha e transforme a minha vida".

Jane chegou ao fundo do poço, tropeçava nos esqueletos das covas dos leões, nos becos da cidade, conheceu o supremo chefe das sombras do inferno, mas tudo que havia aprendido desde cedo não fora em vão.

Todo carinho e maturidade que absorveu e herdou da mãe foi o suficiente para tirá-la daquela situação, quando viu aquela pequenina luz no fim do túnel, que existe no coração de cada um (mesmo que meio apagada às vezes), chamada esperança, um anjo apareceu-lhe e deu-lhe uma pequena caixa, dentro da caixa havia um papel muito pequenino onde estava escrito:

"Deus está em você, Deus não é você".

Foi aí que enxergou que essa história de Deus era algo muito mais complexo e bem mais sutil do que imaginava, foi aí que Jane se deu conta que toda ciência era inútil se não fosse associada com a sabedoria do espírito, não considerava o milagre da própria abstração que é o pensamento.
E se algo tão abstrato podia ao mesmo tempo ser tão claro e tão sólido, como poderia ter qualquer dúvida da existência Dele.

Desde esse dia, Jane entendeu com o mais profundo de sua alma o que dizia no poema que gostava tanto, "O Guardador de Rebanhos" de Fernando Pessoa, ou Alberto Caeiro:

"Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora."

Jane só tinha 14 anos,
mas foi preciso trocar o seu nome para um nome feminino,
para que ela, dentro dele, se reconhecesse com maior facilidade...

Felicidades para você Jane, você já superou uma fase importantíssima.
Mas ainda há um longo caminho pela frente,
cheio de conquistas, vitórias, novos desafios, novos tropeços...

Mas agora você não teme né Jane,
pois já encontrou a fonte das suas virtudes e das suas derrotas,
basta apenas meditar e agir conforme suas escolhas.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Cachoeirarcoíris

Quadro de Ellen Ferrari Silveira








































...









Cachoeirarcoíris
derramando
seus
cachos
coloridos
em
nossa
alma
nossa
consciência
se
acalma
e
transcende
a
essência
destas
águas
somos
feitos
do
sopro
do
vapor
do

da
terra
e
a
nossa
própria
natureza
é
mutante
muito
além
dos
vales,
das
florestas
e
montanhas
 

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Beijos de Naufrágio

Na lareira dos seus sonhos
queima o mais ardente e puro amor,
como flocos de gelo derretendo
na música suave do sol
brilham eternos seus olhos
que descansam em meu leito
das correntezas de um velho dia
sutil, terno e macio da pele que acaricio


Repousa em meus braços e aquece a alegre esperança
de ter todos os dias os seus olhos
navegando nos meus


No mais breve sorriso
me perco e nem penso mais em reencontrar-me
sou náufrago de seus beijos
um barco sempre à espera
de afogar a saudade


E é essa saudade maravilhosa
que não nos deixa acostumar
que nos mergulha em um belo sonho
e que nos faz eternamente amar essa suave brisa do mar.


quarta-feira, 6 de julho de 2011

Inseticida

As moscas gostam das festas
as moscas preferem os restos

as moscas não gostam de águas limpas
as moscas preferem as coisas sujas
lisonjeiam as valsas como águas vivas
exageram a falta do amor próprio
e suicidam-se em vão em nossos copos
as moscas se afogam em nossas sopas
as moscas não entram em nossas bocas
murmúrios que zombam em seus gemidos
em apáticos e antipáticos zumbidos
almejam infestar-nos com suas doenças
mas a cura sagrada é a indiferença

segunda-feira, 27 de junho de 2011

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Divina Luz Eterna ou O 5º Elemento

Aqueles que apenas olham para trás
Se transformam em pedra, ou em âncora

Aqueles que apenas olham para frente
Se transformam em águia, ou água corrente

Aqueles que apenas olham para o céu
Se transformam em vento, ou em ares

Aqueles que apenas olham para baixo
Se transformam em terra, ou capacho

Aqueles que olham sem vícios para todos os lados
São como o fogo derretendo o carbono,
Virando fumaça, e deliberadamente fervendo a água...


Vapores que me inspiram...
Minha árvore de retratos proféticos do passado

Nenhuma folha qualquer cai sem respeito
Nem uma palavra a mais por descuido

Uma nova fase, um novo ciclo
Frases soltas jamais ao sabor do vento
Já não me aflige mais o medo da perda
A cada segundo tudo se perde e se reconquista
e o que fica é o que verdadeiramente se valoriza

Confiança no Pai e na Mãe Natureza
Anjos que me amimam com as suas certezas
Dama de Preto que dá sentido à minha vida
Negros cabelos que aquecem meus dedos
Em cada mínimo detalhe de beleza escondida

Mundo abstrato que floresce em meus olhos
Não há mais espaço para velhos rumores
Meus braços te afagam e protegem o carinho
Mãos que te aquecem e acalmam seus nervos
Grandioso e Divino Amor que transcende imaculado
Castas de vastos e longínquos horizontes

Nosso Amor é a semente da árvore da vida
(não olha apenas para trás)
Nosso Amor é a delicada delícia do gosto púrpura
(não olha apenas para frente)
Nosso Amor é o ar de uma música eterna
(não olha apenas para o céu)

Nosso Amor é o infinito calor que não mais se apaga
(Abençoada Onisciência, Onipotência e Onipresença).

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O Processo

Envelhecer é difícil.
Nem tanto.
Quando se deixa apenas o sopro de vida
esvair-se com o tempo.



Difícil mesmo é manter a ternura
ardendo no peito.

As desilusões vão tomando conta do olhar
como um glaucoma que nos faz acreditar
não podermos mais acreditar
em nossos mais belos sonhos.


Difícil é quando se sabe já não ter mais
a vida inteira pela frente
e pior ainda quando perdemos a capacidade
de rir dos nossos próprios erros
de olhar palidamente para a nossa imensa imperfeição meliante.


Quando já não chegamos mais a inspirar a fumaça
da fonte das palavras como antigamente,
abrindo tanto os ouvidos que de certa forma os cerram
abrindo tantas pupilas que dessa mesma luz nos cegam...


...mas é aí que nesse exato momento me vem o seu castanho e meigo olhar
e eu já não me preocupo mais com tudo que tem tomado tanto o meu tempo...


Quadro Melancolia de Albrecht Dürer

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A Deus Dará

Ah quem me dera ter um colete à prova de cansaço
pois ultimamente já não tenho tido forças
nem para cometer direito os meus pecados

Quem me dera ter um tipo de energético
que triplicasse o valor dos meus sonhos
para que eu pudesse a cor dar e dar mais e mais valor
a esta imensa obra de arte que é a vida

Para que eu pudesse sempre ser a imensa esponja
que absorve tudo aquilo que observa

Que eu pudesse sempre ser o imenso catalisador
que transforma tudo aquilo que atravessa

Privilégio é poder acordar ao lado
e com o carinho de alguém que te ama
ser feliz e agradecido com o amor que tem
fazer de um céu azul o seu azul celeste
saber valorizar o doce conforto de uma cama

Ah quem me dera dar à tantos todo meu amor
todo amor que tive e que sei que Deus dará
para iluminar a escuridão dos corações do mundo
para refletir amor além quando outra vez cansar

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Via Láctea - Olavo Bilac

Talvez sonhasse, quando a vi. Mas via
Que, aos raios do luar iluminada,
Entre as estrelas trêmulas subia
Uma infinita e cintilante escada.

E eu olhava-a de baixo, olhava-a... Em cada
Degrau, que o ouro mais límpido vestia,
Mudo e sereno, um anjo a harpa dourada,
Ressoante de súplicas, feria...

Tu, mãe sagrada! Vós também, formosas
Ilusões! Sonhos meus! íeis por ela
Como um bando de sombras vaporosas.

E, ó meu amor! Eu te buscava, quando
Vi que no alto surgias, calma e bela,
O olhar celeste para o meu baixando...

Tudo ouvirás, pois que, bondosa e pura
Me ouves agora com o melhor ouvido:
Toda a ansiedade, todo o mal sofrido
Em silêncio, na antiga desventura

...

Tantos esparsos vi profusamente
Pelo caminho que, a chorar, trilhava!
Tantos havia, tantos! E eu passava
Por todos eles frio e indiferente...

...


“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi:”Amai para entende-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

Poema completo em:


http://www.culturabrasil.pro.br/vialactea.htm

quarta-feira, 23 de março de 2011

Nas Cordas da Consciência Cósmica

Meu coração vibra em alfa
nas reluzentes cordas da consciência cósmica
como num bater de asas
encadeando as ondas em altas frequências
pensamento consequente que me sincroniza em ávidas
sensações de transe que meditando eu chego

Eu vejo um horizonte largo em que não me caibo

estico o fio da alma e me dissolvo o ego
meu pensamento é um barco andando em águas calmas
velejo em literatura e em trilhas sonoras
a sabedoria das gaivotas que voam ao sabor do vento
a alegria de transcender o silêncio
nas sutis e invisíveis sílabas que escrevo


Quero muito mais que viajar para além no azul anil
muito mais que a paz que faz meu coração feliz
espalhar partículas radioativas de esperança e bondade
o carinho aveludado para cada coração febril
quero crise intensa de boas risadas
das tolices de nossa vã razão pueril

a experiência do espírito mais senil
e a inocência de uma alma que quase sempre sorri


quarta-feira, 2 de março de 2011

Sobre As Estradas Sob Meus Passos

Traço apenas meus passos
na estrada em que me encontro
e por vezes me perco sem rumo
em caminhos que desconheço
e em destinos que me desvendam

Planejo roteiros imaginários
em sonhos que não cessam
transformam-se a cada segundo que cresço
mal cabem todos os sonhos do mundo
na pueril inconstância de meu peito

Escadas cromáticas que escalo e que estudo
escolhas e dúvidas em que tropeço
desço noites e subo dias de luta que sugam
nas monográficas caligrafias que escrevo
as rugas renovam os olhares da minha alma
e meus planos são planícies de closes à esmo

Não sou eu que caminha sobre essa estrada
é a estrada que desliza sob meus pensamentos
a medida que evoluo faço parte do todo
e equilibro a vaidade do mundo ao meu ego
sou ao mesmo tempo o caminho e a descoberta
das verdades relativas dos meus acertos e erros
dos aprendizados que absorvo, interpreto e expresso
dos equívocos que aos poucos humildemente despeço.


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Sobre Flechas e Arco Íris

Morde meus lábios e leva um pedaço da minha alma
que se regenera ao sentir as frestas de um sorriso seu
faço festa de um sorriso, um abraço e suspiro
a cada doce leve toque de suas mãos

Provocando os meus medos a cada abismo
seu misterioso olhar que não decifro
e reconquisto a cada dia a sutil mágica
do brilho que ilumina a farta sensibilidade
que já não mais nos falta

Tardes de arco íris nos celebram
em celestes e cromáticas alianças
natureza abençoa as virtudes que se revelam
e não mais relevam a nossa incansável esperança

Amuleto de palavras que escrevo em enquadramentos
dos maravilhosos dias que já não tem mais fim
já não me apego mais aquilo que aos poucos o tempo dissolve
carrego sonhos claros e insônias que já não me adoecem
seu carinho me atravessa como uma ponte para além do universo
e a cada letra que transpiro sinto a leve presença de você em mim...


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A Teoria da Relatividade do Tempo e dos Sentidos

Certa vez, em uma dessas festinhas caseiras, que grupos de jovens costumam fazer quando seus pais dormem fora, ouvi um amigo nada sóbrio (ou talvez com um excesso de sobriedade) declarar enfático uma frase que a princípio me pareceu estranha:

"-Eu queria viver 20 anos como se fossem 2 dias".


Na hora nós todos rimos, talvez por estarmos todos num certo transe, mas no fundo todos entendiam o real significado da frase.


Muitos autores já escreveram maravilhosos textos sobre o tempo, sempre tive o conceito do Eterno Retorno do Nietzsche como um amuleto imaginário que me faz lembrar do quanto é importante dar valor ao nosso tempo, ao nosso agora:

2"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?" (A Gaia Ciência)


Outro autor que gosto muito é o Ferreira Gullar, ele escreveu um poema chamado Poema Sujo que de certa forma fez ele atravessar a barreira do tempo e voltar para o Brasil, após o seu exílio na época da ditadura.

"...É impossível dizer

em quantas velocidades diferentes
se move uma cidade
a cada instante
(sem falar nos mortos
que voam para trás)
ou mesmo uma casa
onde a velocidade da cozinha
não é igual à da sala (aparentemente imóvel
nos seus jarros e bibelôs de porcelana)
nem à do quintal
escancarado às ventanias da época
e que dizer das ruas
de tráfego intenso e da circulação do dinheiro
e das mercadorias
desigual segundo o bairro e a classe, e da
rotação do capital
mais lenta nos legumes
mais rápida no setor industrial, e
da rotação do sono
sob a pele,
do sonho
nos cabelos?
e as tantas situações da água nas vasilhas
(pronta a fugir) a rotação
da mão que busca entre os pentelhos
o sonho molhado os muitos lábios
do corpo
que ao afago se abre em rosa, a mão
que ali se detém a sujar-se
de cheiros de mulher,
e a rotação
dos cheiros outros
que na quinta se fabricam
junto com a resina das árvores e o canto
dos passarinhos?
Que dizer da circulação
da luz solar
arrastando-se no pó debaixo do guarda-roupa
entre sapatos?
e da circulação
dos gatos pela casa
dos pombos pela brisa?..."


Há um tempo, li um artigo assinado por Airton Luiz Mendonça que falava sobre a rotina e sobre a nossa capacidade de colocarmos certas capacidades no "piloto automático" para podermos abrir espaço em nossas mentes para novos aprendizados:

"O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos.


Se alguém colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem nenhuma mobília, sem portas ou janelas, sem relógio, você começará a perder a noção do tempo.


Por alguns dias, sua mente detectará a passagem do tempo sentindo as reações internas do seu corpo, incluindo os batimentos cardíacos, ciclos de sono, fome, sede e pressão sanguínea.


Isso acontece porque nossa noção de passagem do tempo deriva do movimento dos objetos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o pôr do sol.


Compreendido este ponto, há outra coisa que você tem que considerar:


Nosso cérebro é extremamente otimizado. Ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho. Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia. Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processar conscientemente tal quantidade. Por isso, a maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos do dia e portanto, quando você vive uma experiência pela primeira vez, ele dedica muitos recursos para compreender o que está acontecendo.


É quando você se sente mais vivo. Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele vai simplesmente colocando suas reações no modo automático e ‘apagando’ as experiências duplicadas. Se você entendeu estes dois pontos, já vai compreender porque parece que o tempo acelera, quando ficamos mais velhos e porque os Natais chegam cada vez mais rapidamente.


Quando começamos a dirigir automóveis, tudo parece muito complicado, nossa atenção parece ser requisitada ao máximo. Então, um dia dirigimos trocando de marcha, olhando os semáforos, lendo os sinais ou até falando ao celular ao mesmo tempo. Como acontece? Simples: o cérebro já sabe o que está escrito nas placas (você não lê com os olhos, mas com a imagem anterior, na mente); O cérebro já sabe qual marcha trocar (ele simplesmente pega suas experiências passadas e usa, no lugar de repetir realmente a experiência)..."


http://intensidade.wordpress.com/2008/01/11/sobre-a-rotina-airton-luiz-mendonca/


Na correria da nossa vida moderna às vezes acabamos por deixar no piloto automático muitas coisas que deveriam ter um valor maior em nossas vidas, e não é fácil equilibrar a necessidade de estar atualizado com as novidades tecnológicas, as novidades midiáticas, nem as novidades culturais baseadas nessas duas anteriores, com a qualidade de vida, qualidade de sensibilidade, qualidade de conhecimento (sabedoria), etc...



A Teoria da Relatividade do Tempo e dos Sentidos


Às vezes é preciso ter os pés descalços
e quebrar o compasso em rítmos ímpares circulares
improvisar um novo caminho, andar de um novo jeito
aprender a esquecer e não ter tanto medo de errar
afinal buscamos verdades simples ou poder?

Sábio mesmo é aquele que sabe que nada sabe

e que com o tempo saberá o quanto sabe menos ainda
aquele que nada apenas para desfrutar da capacidade de seus músculos
aquele que voa como uma gaivota pelo simples sabor do vento
aquele que muda o caminho porque sente que caminha apenas dentro de si
aquele que sabe o quanto navegar nesse imenso mar
é necessário e impreciso
pelas cidades que oprimem em concretos os olhares
que competem em milhares de propagandas de carros
nas cidades que ensurdecem em ruídos
os ouvidos que já não distinguem os próprios passos
respire fundo e mergulhe na doce voz do silêncio
antes que a tempestade de ventos te cubra de responsabilidades
ajeite sua vela e aproveite a limonada do tempo
aproveite os seus dias como se fossem um último desejo
e o relativo tempo lhe será imensamente grato
e os seus dias frutificarão mais belos, suculentos e nutritivos,
para que você alimente a sua alma e o seu corpo em todos os sentidos.


Salvador Dali - O Tempo

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O Estômago do Tempo

Borboletas borbulham dentro
um estômago em espasmos rítmicos
letras que derramam pérolas
nas folhas secas de belas árvores
dois caminhos que se atravessam
e levam o peso sobre suas asas

insustentável leveza de tentáculos
natureza densa que se redescobre
desabrocha flores de canudos de plástico

desdobra a urgência da ciência em arte
invade o oceano do ímpulso da vontade
mergulhada em desejos românticos
na chuva intensa de nossas raízes
ná água flexível de nossos átomos
surrealismo incrível da felicidade

não há fumaça que alguém engula
que faça tanta cócega interna
quanto as borboletas de nossas vanguardas
não há química que abstraia
tanta certeza de se estar vivo
quanto o equilíbrio de um coração que brilha
o brilho sagrado da eternidade sem lembranças

pós conceito que liberta o desapego
fé no mistério que liberta o medo
sopro de vidas não engarrafáveis
afáveis virtualidades que já não vos cabem
espíritos transcendentes de plasmas
e de vidros de antigos monitores
raios catódicos que alimentam almas
dos enarmônicos mais obssessores

isto é só um voto de esperança
de um coração torturado ao telefone
que não pára de mover o moinho
mas auto já não há mais tantos sonhos mesquinhos
quando muito há sonhos
Cronos engoliu a si mesmo
quando Einsten mergulhou no relativo tempo
e ainda guerreamos entre os sagrados escritos de Darwin
mas já não haverá mais respostas para os enigmas
quando o mistério e a esperança já não forem necessários

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A Afabilidade Da Porta

Sentou-se na sala de espera e a observou pela fechadura.
Em seus braços haviam marcas de pequenos arranhões que mostravam sua afabilidade, sua fragilidade.
Ao perceber que era observada, vestiu suave e sensualmente suas peças e manteve o seu olhar misterioso e atento... Enquanto o tempo os dissolvia em cores expressionistas, a arte surpreendia as dores de suas contumácias. Enquanto o céu se abria em horizontes de portas que se mostravam leves e sem ruídos que os perturbassem. Tão sagrado quanto o abrigo que construíam despretensiosos, tão intensos e consistentes quanto eles se respeitavam.
 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Guitarras E Violinos

Guitarras elétricas gritavam ásperas
a espera de um brando violino
e agora a glória de um magnífico dueto
entre as cordas dos desejos que se afagam

Lilás veludo de uma voz suave
fogo que suspira o fôlego
sussurrando encantos de ouvido

sementes sagradas
regadas cuidadosamente
em vasos sanguíneos

extravasam o instinto
e umidecem os humildes
negros olhos que sorriem
em pequeninos prantos
os ousados de leites que não caem


Plantam em suas planícies
plenitudes de extensos horizontes
manhãs sucedem-se amadurecendo
um valioso, raro e esplêndido amor


Armadura de claves que em suas sutilezas
derretem as sórdidas armas alheias


Amadores de profissões em essência
frutíferas crônicas professando poemas
em sentidos que naturalmente se aliteram
em altas frequências que se libertam
em raízes de sonhos que se conquistam
entrelaços e passos que se acompanham
no fácil pulsar em que respiram
abençoadas melodias de guitarras e violinos.


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Oração Da Liberdade E Do Desapego

Ó Imensa Bondade e Pureza que habita o Infinito azul Celeste
Libertai-nos das nossas mais complexas ilusões

Ensina-nos a leveza do desapego
Para que não sejamos reféns dos nossos vícios
E que em cada novo aprendizado

Possamos nos aproximar cada vez mais das virtudes celestes
Ensina-nos a agradecer às dádivas mais simples
Como a saúde física, o respirar, o pensar, o pão e a água,

Ensina-nos a lapidar os dons mais íntimos a nós concedidos
Para que façamos o melhor em nossa missão aqui na Terra
Ensina-nos a partir sem culpa e a compartilhar sem medo
Ensina-nos a não desistir e a diferenciar amor próprio, de orgulho
E quando tivermos aprendido o suficiente em nossa passagem
Conforta os que aqui ficarem
com o amor fraterno de uma verdadeira amizade

Ensina-nos a humildade em cada pedra que há no caminho
Ensina-nos a paciência e que tudo passa e tem seu tempo
Que a saudade seja leve e que niguém se machuque
sem nada aprender
Ensina-nos a ser água neste planeta Terra.


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Cordel da Hamornia Amiga

Notas são as sílabas que nos clareiam
timbres são cores que nos floreiam
em melódicas frases que se entrelaçam
somos os instrumentos dos nossos laços e destinos

vibramos os ricos acordes que nos merecem
dissolvendo os males em mares que se acalmam
marés de ventos tempestuosos que se calam

Nossos livros são as mais sagradas sinfonias

e os nossos grandes amigos os pássaros mais raros
traduzimos canções de nossas longas conversas
em harmônicas dissonâncias que cantam e se afagam
multiplicam-se linguagens nas mais belas palavras
e interagem nossos verbos em vocabulário

vozes que ecoam em coros dentro de nossos corações
florestas de orquestras em nossas pequenas festas

Conquistas compartilhadas em encontros fraternos
abraços sinceros que arqueiam altos muros
intimidade confiada e protegida a sete espadas
recíproca paciência ritmando a doce cadência
de um carinho que vai muito além de um poema

de uma ciência que vai muito além de uma música
na alquimia espiritual que nem a prática
e nem a experiência explica
confusa aliteração em que meu vício abusa


Virtuosa imperfeição que afinam nossas afinidades
infinidades de sonhos que compomos em nossas vidas
família escolhida a dedos por anjos caídos

estes dedos que enxugam que acalmam e transformam
lágrimas amargas em suaves e doces sorrisos
ah! Que triste é a alma que ainda não reconheceu
o imenso valor da melódica ópera que é a vida

e que triste é a alma que ainda não descobriu
o imenso valor da mais bela obra de arte
que é ter e poder ser um grande amigo


quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Olímpicas Esperanças

A última esperança
é a primeira certeza
de que enquanto houver a vida
também haverá beleza

Homens que constroem traços e esboços,
rascunhos amarelados
que dissolvem-se no tempo
constroem laços que transpassam
estéticas, artefatos, palavras,
prédios cada vez mais altos,
mas ainda nada tão espantoso
quanto a arquitetura de uma borboleta
quanto a liberdade de uma libélula

A razão às vezes também é um ópio
que nos cega os olhares mais óbvios
olhos que podem ouvir estrelas
olhos que degustam doces e salgados
sorrisos e lágrimas, dores amargas,
olhos que sonham que brotam milagres
nos sinais quase imperceptíveis em anjos
de vozes suaves

Brilha azul mente sem lembranças
mente à mente que completamente senta
que assenta e sente o rítmo improvisado
da dança em que o erro é parte integrante
dança dos dias que nos movem em tangos
notas dos ventos que nos cantam encantos
enquanto novas dúvidas caem pelos cantos
e as velhas dívidas de amor se desfazem

Virgem que bebe nas águas da fonte
onde incrédula a certeza nasce
e incertos dançamos no olimpo
dos nossos sonhos mortos
mas ainda assim jamais desperdiçados