quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Jane

Jane acreditava que vencer a morte era só não se apegar, que seria bem mais forte se não aprendesse a amar, mas todo o tempo ocioso que pedia trouxe-lhe a reflexão, que na verdade a correria da cidade deu-lhe cicatrizes irrecuperáveis...

Desde cedo aprendeu que ler era a melhor forma de não deixar que ninguém a enganasse, aprendeu que a sabedoria é algo que está muito mais relacionado à sensibilidade do que à razão, porém quando veio a primeira morte de alguém muito próximo à ela, não havia mais razão, nem sabedoria, nem mais nada que a segurasse em segurança, e o acúmulo de tanta informação obtida nos diversos livros que lera a trancaram num casulo em que se torturava como se dissesse à Deus:

"Se o Sr. existe mesmo, venha e transforme a minha vida".

Jane chegou ao fundo do poço, tropeçava nos esqueletos das covas dos leões, nos becos da cidade, conheceu o supremo chefe das sombras do inferno, mas tudo que havia aprendido desde cedo não fora em vão.

Todo carinho e maturidade que absorveu e herdou da mãe foi o suficiente para tirá-la daquela situação, quando viu aquela pequenina luz no fim do túnel, que existe no coração de cada um (mesmo que meio apagada às vezes), chamada esperança, um anjo apareceu-lhe e deu-lhe uma pequena caixa, dentro da caixa havia um papel muito pequenino onde estava escrito:

"Deus está em você, Deus não é você".

Foi aí que enxergou que essa história de Deus era algo muito mais complexo e bem mais sutil do que imaginava, foi aí que Jane se deu conta que toda ciência era inútil se não fosse associada com a sabedoria do espírito, não considerava o milagre da própria abstração que é o pensamento.
E se algo tão abstrato podia ao mesmo tempo ser tão claro e tão sólido, como poderia ter qualquer dúvida da existência Dele.

Desde esse dia, Jane entendeu com o mais profundo de sua alma o que dizia no poema que gostava tanto, "O Guardador de Rebanhos" de Fernando Pessoa, ou Alberto Caeiro:

"Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora."

Jane só tinha 14 anos,
mas foi preciso trocar o seu nome para um nome feminino,
para que ela, dentro dele, se reconhecesse com maior facilidade...

Felicidades para você Jane, você já superou uma fase importantíssima.
Mas ainda há um longo caminho pela frente,
cheio de conquistas, vitórias, novos desafios, novos tropeços...

Mas agora você não teme né Jane,
pois já encontrou a fonte das suas virtudes e das suas derrotas,
basta apenas meditar e agir conforme suas escolhas.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Cachoeirarcoíris

Quadro de Ellen Ferrari Silveira








































...









Cachoeirarcoíris
derramando
seus
cachos
coloridos
em
nossa
alma
nossa
consciência
se
acalma
e
transcende
a
essência
destas
águas
somos
feitos
do
sopro
do
vapor
do

da
terra
e
a
nossa
própria
natureza
é
mutante
muito
além
dos
vales,
das
florestas
e
montanhas