domingo, 19 de agosto de 2012

Esperança e desespero

Expectativa é bolha frágil
explodindo a cada hora
até que o coração se cansa
de tanta agulha e muda

Um caminho mais claro
do que o abismo do ego
distante umbigo do eu
presente abrigo de Deus

Onde apegos libertam-se
meloso e alcoólico
 melancólico 
poder dos olhos
a força silenciosa das águas
e da margem que a abraça

Brisa suave afaga o fogo
faca a brasa do peito
face iludida na foice
foi seu amor perfeito?

Faz-se da dor rotina
fez-se da fé destreza
do fardo amargo o leito
da pedra o travesseiro

Foi-se da noite a fossa
a nova nota entrando
fosse um vão desprezo
tornado o dia brando

O caminhar extenso
o céu um doce espelho
a dor ganhou meu canto
e afasta agora o medo

Fez dessa luz a glória
vitória de si mesma
a cura da loucura
fácil perder-se o senso

Enquanto a boca do sol
mastiga a dança eterna
bailarina
espaço
tempo.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sob A Luz Da Boemia


www.youtube.com/watch?v=2FdkFFIPLRc
















A boa é minha, ou a boa é nossa?
Compartilhemos a bossa insólita da boa nova
A bondade já não precisa mais estar sozinha
quer o vôo leve de um pássaro eternamente jovem
De um lado a juventude corre e sofre
em busca de um futuro tão distante
Do outro o ágil tempo que escorre
flácido e abstrato rindo de nossas mãos
Como fragmentos estilhaçados em lisérgica sincronia
A natureza humana é essencialmente a boêmia
Trabalho, contratos, já não serão tão necessários
A solidez da solidariedade já não se cabe em solidão
Apolo abraça Dionisio em sincera gratidão
A lua se inverte como uma vírgula fora do contexto
Enquanto testa o reflexo do fogo em linhas tortas
Deuses da vasta harmonia caótica dos séculos
O perfume dos espíritos que transcendem novos verbos
O sexo é a sede incessante da vida de improvisos
No torpor imprevisível o sono apático da razão
Anjos e dragões de fogo protegem o povo em seus escudos
O amor já não precisa da espada para ser forte
O amor está a margem do instinto e do sangue
Troca e sente a dor do incêndio da razão pulsante
Explicação errante em vasta sapiência inerte
na experiência ressoando além dos livros
a poesia irregular dos ventos
a boemia é a sensualidade da irmandade
a liberdade do movimento das asas ancestrais da humanidade
em cantos de pássaros sob a luz da cidade noturna
entre putas e santos em busca da nostálgica ternura

sábado, 16 de junho de 2012

....................O Ar E O Rasta....................


http://www.youtube.com/watch?v=n7ZgYlO-Gq8&feature=related

Valorizar 
o valor 
do ar
inspira 
a vida
a morte 
expira
e a cor 
dá 
a noite
o dia 
sorte
só te
pede
venha cá 
minha alegria
suspensos passos 
caminham
tenros 
laços
nostalgia
em canto
o tempo
nos tangia
doce amargo
salgácidos
li cores
a deflorar
braços
perfumes
de flores 
há maços
que amassam
e amansam
abris 
felizes
Junos, julhos
embrulhos
protetores
ar 
dores
adornárvores
raízes vorazes
devoram 
ares
vozes
sínteses
lunares
Anjos 
ases 
copas
asas
casam-se 
abrem-se
sustenidas
sustentáveis
tentáculos
e o voo 
ver
vidas
venham
ar 
te
trabalho
palavra
é barro
embaixo
derretidas
lá gris
mais
massas
mais ar
para 
parar
o par 
e harpar 
a dose?
Doce
vinho
vento 
sopre
sobre
dissipar
a dor 
o mel 
se 
incita 
a briga
diluída
pura 
água
por 
risadas
lábios 
sedem
a sede 
desse
sobe 
desce
em chamas
o chá
mascar o
claro 
e duro
casulo
máscara
razão
de respirar
e ver 
de 
cor
ação
achar
vitrais
vitais
ver
tal
color 
ação
sangrar
são 
gratas
garças
girafas
garras
gralhas
das 
garrafas
em lã
mastiga
a lama
a rã
instiga
arranhar
a cama
inflar
e o ego
acanha
a camuflar
tamanha
a sorte
ar dê
ao 
norte
a arte
de  
sul
em
sul
insuflar
derrete
sonhos
índios
hão
justos
sons
no vão
as nuvens
de imitar
a cura
agora
aqui
e outrora
o ar 
de
cantar
em
cantar
encantar
até
os pés
o céu
o chão
é seu
ao
r

e

e

n

c

o

n

t

r

a

r
.



http://www.youtube.com/watch?v=I8AwDRexEzg&feature=related


http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&NR=1&v=o2llUR84gNY

quinta-feira, 31 de maio de 2012

O mundo sólido que não vemos


A sólida matéria de novos sonhos explicam
o quanto o mundo mudo parece intangível
acorda sofrendo o suor de um vão pesadelo
na dor lancinante que tarda ao esquecimento
e cega o amor com a dura razão insensível
um medo invisível tornou-se vão e insuportável
em casas, cavernas, casulos não evoluídos
dissolvem-se egos num voo febril solitário
o vasto lar doce lar que descobre o espaço
a vida que planta estrelas brilhando em seu pranto
o calor que aquece seu corpo no abraço da terra
as sementes que brotam o perfume em densa matéria
absorvem arquétipos tensos num buraco negro
o tempo que escorre sedento entre nossos dedos
o desejo não pede o limite de um único orgasmo
e transcende sua dor pela falta do eterno abraço
dialogando os nossos monóxidos ecos monólogos
o fogo da vida contido no ovo e no óvulo
movimento eterno da evolução do enredo
erros e acertos contemplam-se enquanto completam
vivendo bem mais do que o mais do mais do mais do mais do mesmo
o rio correndo é completamente um outro fluxo

Quadro de Salvador Dali vejam também a sintonia harmônica no texto deste blog: http://ruthalbanita.blogspot.com.br/2011/12/o-outro-lado-da-vidraca.html

Quadro de Salvador Dali vejam também a sintonia harmônica no texto deste blog: http://ruthalbanita.blogspot.com.br/2011/12/o-outro-lado-da-vidraca.html



e a casa absorve a colheita que merecermos
a garoa lembrando a abundância dessa natureza
do beijo as gotas que escorregam em nosso corpo
o sentido preciso em viver para não ser perdido
transformando e evoluindo ao tempero dos ventos
a parte da arte que o nosso espírito sente
a intuição que transcende os nossos caminhos
o equilíbrio que engole a vontade na razão de um sonho
nas cartas sagradas do Yage que encontramos
os segredos da vida de um jovem Davi reinando


segunda-feira, 28 de maio de 2012

Aquarelágrimas

Sou carne da tua carne
comunhão com seu espírito
de cada lágrima um milagre
um perfume que inspiro

Me desboto em seus sonhos
aquarelando seus sorrisos
transformando os seus medos
em gnomos coloridos

Nosso ritmo enche os olhos
brilhando suave entre os anjos
nossos timbres são os detalhes
dos mais singelos cânticos

O calor de nossa pele
como um edredom romântico
já não cabe em nosso corpo
todo o oceano atlântico

O meu coração cigano
fez em seu seio a morada
onde quer que eu me encontre
levo lembranças amadas

Seus traços indígenas
e a sua alma única,
minha musa, nossa poesia,
é a inspiração da música

Tantos pássaros que encantam
em cantos de liberdade
e dizem: "o amor e a igualdade,
bebem a gratidão que dançam".

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Pensamento para um dia, ou uma vida de sol

Há um mundo invisível ao seu redor
tão relevante quanto os processos visíveis dentro de ti
a sua liberdade é proporcional ao poder da sua visão
ao seu poder constante de ampliar a sua sensibilidade
os pregadores os músicos e os poetas
versam e conversam não apenas com a sua razão
mas antes de tudo e principalmente
com as emoções que conservam e evoluem valores espirituais
com detalhes em cada um de nós que fazem a diferença
as palavras são como sementes e o pensamento é como a terra
é preciso muito amor para fertilizar a liberdade e deixar fluir
e cada gesto, cada palavra, cada pensamento em ti será
como as águas de uma cachoeira sagrada e eterna
o passado e o futuro se conectarão
com momentos verdadeiros que devem ser valorizados
e os frutos de sua consciência brotarão nas mãos da providência
nas equações da coincidência, na justiça da consequência,
ou no que quer que acredite a nossa vã e humilde sapiência.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Da Natureza Que Gentilmente Chora


Eu ouço o mantra do manto da chuva em seus olhos
Derreto minha alma e alimento seu espírito com a esperança
Porque em breve seremos apenas adubo dessa vasta consciência
Que nos dissolve serena a cada solo de guitarra
Nossa dissonância é apenas a sombra do medo
Que percorre nossos sonhos enquanto não conhecemos
Os verdadeiros motivos que fecharam nossos olhos
Há um frio que espreita a fresta da janela
E atravessa o frágil tecido de nossos ossos
E mesmo com todo esse amor que esquenta
Há o cansaço dos músculos que adormecem tensos
Dos neurônios que machucam os punhos em pontas de faca
Para transcender é preciso ir ao extremo das profundezas de si mesmo
Dissolver medos tão gigantescos quanto dragões de sete cabeças
Descansar da pressa da urgência extrema das paixões
Deixar florescer a sua evolução intrínseca sem agrotóxicos
Sem a intenção hedonista de drogas que levam abaixo
A capacidade de se chegar num estado de plenitude com o sagrado esforço
E poder dispersar o poder com a relatividade de infinitas possibilidades



sexta-feira, 13 de abril de 2012

Âncora Pluma

É preciso se permitir ficar triste de vez em quando
se for preciso até se aprofundar na loucura da tristeza
mas saber que a felicidade é um tipo de amor leve
que sempre retornará para a superfície do que não é supérfluo
o conforto é um grande aliado de vez em quando
mas quase sempre é uma forma de nos acorrentar em nós mesmos
é preciso ter paixão pela vida, paixão pelo amor,
e saber valorizar o cinza da tristeza
uma fotografia sem cinza há pouca harmonia com a vida
nem se compara a intensa dissonância de um verso torto
um pouco de controle não faz mal
mas o excesso cansa pelo erro
de acreditar que nada disso também vai passar
a dor da morte de alguém querido também
se transformará em doce âncora pluma
o vento dissolvendo as rochas em branca areia
o amargo conhaque dissolvendo más lembranças
é preciso não temer o mal como fosse um inimigo
dar vazão ao instinto do fe e do menino
para não andar em círculos na pressa
de resolver tudo como um filho tão mimado
perdendo o equilíbrio inconstante da natureza
lotería de insensatos caminhos múltiplos
é preciso abstrair absolutismos
um pouco de motivo um pouco de arte inútil
distanciar o sonho do produto
fazer valer o contínuo aprendizado
navegar um pouco impreciso é preciso
para deixar a terra mudar o lugar
e não mais se acomodar no conforto que só engorda
não mais ter medo de arriscar doer a alma
deixar o vazio do que é óbvio e vil
e não mais buscar apenas a estabilidade do que é seguro
pois amanhã pode ser também o seu dia
de viver para sempre, ou morrer apenas... 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Sexta-Feira 13 de Janeiro

Era sexta-feira 13, lua cheia.
Um calor quase insuportável soprava o mormaço
cozinhando os corpos que suavam.
Do outro lado a sensação psicológica de refresco.
A sede incessante pela água corrente, gelada e salobra.
Lavar a doce alma em cachoeira de águas salgadas.
Cicatrizar de vez todas as frestas das feridas de um longo ano.
Emancipar todas as virtudes lapidadas com o esmero de um anjo.
Nunca antes tiveram tanto tempo um para o outro.
Nunca antes tiveram tanta ansiedade pelo futuro.
Mas o presente dessa vez era um simples e grandioso presente.
E se apresentava com todo seu esplendor de cores e vida.
Da vida que acontece o ano todo longe de nossos olhos.
Natureza que se esconde em nossa busca
pela suposta e ignóbil estabilidade financeira.
Velhas páginas que viravam pelo avesso,
para verem que a cada ano juntos há um novo começo.
As ondas repetindo os seus versos com novos cheiros.
Na frequência de um belo amor que embarca
palavras navegantes em novas notas e rotas de nobreza.


domingo, 25 de março de 2012

O Sol A Brasa E As Veias


Sinto o sol ardendo em meu peito e o céu faz 
abrir as portas para o vento que traz
a razão e o sentido que há por dentro
se você se permitir a cor dar
vai saber o que eu estou dizendo

Sinta o mar fluir a brasa em nossas veias
elas transportam sonhos de outro lugar
na canção a natureza é o nosso berço
e você vai perceber ao seu redor
o invisível acontecendo
e é preciso ser capaz de ouvir o som
das estrelas adormecendo

Sinta o sol ardendo em seu peito e o céu fará 
abrir o mar fluir a brasa acesa 
em nossas veias 
(sedentas)


sexta-feira, 16 de março de 2012

A Lua, O Céu E A Terra

Que a lua venha mais uma vez iluminar os corações,
brilhar alta entre as estrelas, inspirar-nos de gratidão,
de intenções intensas e sementes colhidas.

Que a chuva mate a sede dessa terra fértil
e que a vida seja abençoada nos maiores e menores pensamentos,
dentro e fora de nossos sonhos.












“...após o Grande Mistério ter criado a Terra depositou sobre seu ventre três de suas virtudes, o Amor, o Poder e a Sabedoria. Nas plantas está contido o Amor de Deus e toda sua capacidade de doação e entrega deste Amor. Nos animais está a expressão do poder do Grande Espírito e suas relações. E como receptáculo da sabedoria desta Força Criadora, o Homem, para que em seu caminho possa comungar com estas dádivas divinas e compartir com seus irmãos.” 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Nosso Equinócio

















A cada Solstício um Equinócio
Em que nossa órbita magnetiza extensas noites
Valentinus mostra o que até os pássaros fazem
Como já cantava Porter em verso irônico
Cada nota a descoberta de um milagre
A vida brota a cada nova célula morta
Expira, inspira, medita.

Nos torna parte integrante da mesma consciência
Um único coração que bate em duplo seio
Nos conecta ao fluxo interno e azulado
Transpira a sede e cede ao bom pecado
Pedaços de palavras como gotas
Derretem olhos em doce voz alada

Antônio a graça, a bênção, a taça, o vinho
O mundo Juno uniu em grande abraço
Semana de fertilidade vasta
O(A) Grande Mestre dança em nossos passos

Suave faz-se em melódica pausa
O charme que envolve em inveja branca
À todos que compreendem os detalhes
Da invisibilidade explícita em nossos sonhos

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Dúvida, Certeza, Budismo, Sartre

Será que devemos fugir das dúvidas, ou buscar através de verdades absolutas sanar essas dúvidas? Para mim nem uma nem a outra. Existe um caminho do meio onde podemos encontrar o equilíbrio entre a dúvida e a certeza. A dúvida é o extremo oposto do apego, a certeza é o extremo oposto da dúvida. A certeza é o próprio apego. 


O caminho do meio é a experiência e sabedoria espiritual através da transcendência.



Nesse blog abaixo há uma interpretação semelhante a minha sobre o assunto:

http://wagnerpel.blogspot.com/2007/07/dvida-o-preo-da-pureza.html



A Dúvida é o Preço da Pureza


"Eu vejo o horizonte trêmulo, eu tenho os olhos úmidos/ Eu posso estar completamente enganado/ Eu posso estar correndo pro lado errado/ Mas 'A DÚVIDA É O PREÇO DA PUREZA'/ E é inútil ter certeza" (Gessinger dos Engenheiros do Hawaii - Infinita Highway)


Esse trecho da canção faz alusão a um conto de Jean-Paul Sartre, contido no livro O Muro. Essa estória se chama A Infância de um Chefe. Conta a história de Lucien, um sujeito que desde criança sempre desconfiou das verdades absolutas, como, por exemplo, que sua mãe era mesmo sua mãe, é como se ele imaginasse que vivia em um "Show de Truman". Ele sabia que nesse mundo ninguém é de fato aquilo que é, ou seja, cada um tem um papel nessa "comédia humana". Fica indiferente a que papel assumir, já que no fim das contas todos se equivalem.


"Quem sou eu? Eu olho a escrivaninha, olho o caderno. Chamo-me Lucien Fleurier mas isso não é senão um nome. Eu me exibo. Eu não me exibo. Não sei, isso não tem sentido. Sou um bom aluno. Não. É aparência – um bom aluno gosta de trabalhar– eu não. Tenho boas notas, mas não gosto de trabalhar. Não detesto o trabalho tampouco, não lhe dou importância. Não dou importância a nada. Não serei nunca um chefe. Pensou com angústia: ‘Mas que vou ser?’ Passou um momento; coçou a cara e piscou o olho esquerdo porque o sol o ofuscava. ‘Que sou eu ?’ Havia a bruma, enrolada sobre si mesma, indefinida. ‘Eu !’ Olhou ao longe; a palavra soava na sua cabeça, talvez se pudesse adivinhar alguma coisa como a ponta sombria de uma pirâmide cujos lados fugiam, longe, na bruma. Lucien estremeceu e suas mãos tremeram: ‘É isso’, pensou, ‘é isso. Tenho certeza: eu não existo’." (SARTRE. Editora Civilização Brasileira, 1963, p. 135).


"Bem posso suportar um pouco de dúvida: é o preço que se tem de pagar pela pureza" (SARTRE. Editora Civilização Brasileira, 1963, p. 166). 


Não podemos conhecer a verdade, e não conseguimos viver na incerteza da falta dela, deve ser por isso que inventamos a cultura. Quando não sabíamos de onde viemos inventamos Deus para nos explicar, quando Deus não dava conta da explicação criamos a ciência. O mais engraçado é que em toda existência do homem na terra, ele sempre disse "agora eu sei quem eu sou, de onde vim e por que estou aqui". 


Mas voltando a frase, a pureza citada é a de não saber a verdade, por exemplo, quando somos crianças, a dúvida da existência do Papai Noel e de outras "verdades" é o preço que pagamos pela ingenuidade. Pois é sempre um grande choque quando descobrimos que tudo não passava de uma mentira bem contada, deixamos de ter dúvidas, deixamos de ter pureza. Deve ser por isso que as crianças nascem sábias, cheias de dúvidas, e morrem burras e cheias de certezas.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Redes, corações sociais e mentes

Cada coração é um universo em desencanto
Desenlaçe. Descoberta que desabrocha.
Cada dia tanta nova ideia nasce
da semente altamente abstrata
das mentiras que confundem nossas mentes


Cada ciclo evolue a descoberta interna
e liberta a mente de ancorar o coração em marcas
das ilusões e desilusões recorrentes
da preguiça que sacrifica em desprezo meras palavras
da preguiça que nos faz buscar por evoluções mastigadas


A terra digere a semente em seu tempo relativo
longe das exigências capitalistamente tecnológicas
em um tempo em que não há mais tempo para Shelley
lubrificar a sensibilidade etérea
que há na poesia da alma
em um tempo onde a vez dos fracos
é oprimida pela urgência dos fatos


O abstrato cega aqueles que já não enxergavam nada
além do ego confuso com a maturidade exigida
pela terra transparente
que nos envolve em minérios desperdiçados
a cada oportunidade de absorver
a música das estrelas
de dançar o ritmo sutil que nos convida um novo dia


Até que falte a luz ou descarregue a bateria
até que um novo rumo faça sua vida
naturalmente tomar outro caminho
consolidar os amadurecimentos de outrora
meditar em novas possibilidades
de superar outros limites
uma forma de, ao olhar para dentro,
transformar o outro


A rede é o vício que neutraliza a terra
desgarra a expectativa da ansiedade pela novidade
suga o olhar para a mera atenção do movimento
como uma maré que afoga o ânimo pelo fôlego
desaprendemos o que há muito já era esquecido
redemoinho em que alienamos os nossos sonhos


Transcender é estar no olho do furacão
e ainda assim poder ver o outro lado
não ser dependente dos próprios vícios, nem alheio
ter a humildade de aprender apenas observando
e absorver o minério 
que as maiores esponjas sementes
ainda buscam confusas pela alegoria dos tempos