sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Dúvida, Certeza, Budismo, Sartre

Será que devemos fugir das dúvidas, ou buscar através de verdades absolutas sanar essas dúvidas? Para mim nem uma nem a outra. Existe um caminho do meio onde podemos encontrar o equilíbrio entre a dúvida e a certeza. A dúvida é o extremo oposto do apego, a certeza é o extremo oposto da dúvida. A certeza é o próprio apego. 


O caminho do meio é a experiência e sabedoria espiritual através da transcendência.



Nesse blog abaixo há uma interpretação semelhante a minha sobre o assunto:

http://wagnerpel.blogspot.com/2007/07/dvida-o-preo-da-pureza.html



A Dúvida é o Preço da Pureza


"Eu vejo o horizonte trêmulo, eu tenho os olhos úmidos/ Eu posso estar completamente enganado/ Eu posso estar correndo pro lado errado/ Mas 'A DÚVIDA É O PREÇO DA PUREZA'/ E é inútil ter certeza" (Gessinger dos Engenheiros do Hawaii - Infinita Highway)


Esse trecho da canção faz alusão a um conto de Jean-Paul Sartre, contido no livro O Muro. Essa estória se chama A Infância de um Chefe. Conta a história de Lucien, um sujeito que desde criança sempre desconfiou das verdades absolutas, como, por exemplo, que sua mãe era mesmo sua mãe, é como se ele imaginasse que vivia em um "Show de Truman". Ele sabia que nesse mundo ninguém é de fato aquilo que é, ou seja, cada um tem um papel nessa "comédia humana". Fica indiferente a que papel assumir, já que no fim das contas todos se equivalem.


"Quem sou eu? Eu olho a escrivaninha, olho o caderno. Chamo-me Lucien Fleurier mas isso não é senão um nome. Eu me exibo. Eu não me exibo. Não sei, isso não tem sentido. Sou um bom aluno. Não. É aparência – um bom aluno gosta de trabalhar– eu não. Tenho boas notas, mas não gosto de trabalhar. Não detesto o trabalho tampouco, não lhe dou importância. Não dou importância a nada. Não serei nunca um chefe. Pensou com angústia: ‘Mas que vou ser?’ Passou um momento; coçou a cara e piscou o olho esquerdo porque o sol o ofuscava. ‘Que sou eu ?’ Havia a bruma, enrolada sobre si mesma, indefinida. ‘Eu !’ Olhou ao longe; a palavra soava na sua cabeça, talvez se pudesse adivinhar alguma coisa como a ponta sombria de uma pirâmide cujos lados fugiam, longe, na bruma. Lucien estremeceu e suas mãos tremeram: ‘É isso’, pensou, ‘é isso. Tenho certeza: eu não existo’." (SARTRE. Editora Civilização Brasileira, 1963, p. 135).


"Bem posso suportar um pouco de dúvida: é o preço que se tem de pagar pela pureza" (SARTRE. Editora Civilização Brasileira, 1963, p. 166). 


Não podemos conhecer a verdade, e não conseguimos viver na incerteza da falta dela, deve ser por isso que inventamos a cultura. Quando não sabíamos de onde viemos inventamos Deus para nos explicar, quando Deus não dava conta da explicação criamos a ciência. O mais engraçado é que em toda existência do homem na terra, ele sempre disse "agora eu sei quem eu sou, de onde vim e por que estou aqui". 


Mas voltando a frase, a pureza citada é a de não saber a verdade, por exemplo, quando somos crianças, a dúvida da existência do Papai Noel e de outras "verdades" é o preço que pagamos pela ingenuidade. Pois é sempre um grande choque quando descobrimos que tudo não passava de uma mentira bem contada, deixamos de ter dúvidas, deixamos de ter pureza. Deve ser por isso que as crianças nascem sábias, cheias de dúvidas, e morrem burras e cheias de certezas.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Redes, corações sociais e mentes

Cada coração é um universo em desencanto
Desenlaçe. Descoberta que desabrocha.
Cada dia tanta nova ideia nasce
da semente altamente abstrata
das mentiras que confundem nossas mentes


Cada ciclo evolue a descoberta interna
e liberta a mente de ancorar o coração em marcas
das ilusões e desilusões recorrentes
da preguiça que sacrifica em desprezo meras palavras
da preguiça que nos faz buscar por evoluções mastigadas


A terra digere a semente em seu tempo relativo
longe das exigências capitalistamente tecnológicas
em um tempo em que não há mais tempo para Shelley
lubrificar a sensibilidade etérea
que há na poesia da alma
em um tempo onde a vez dos fracos
é oprimida pela urgência dos fatos


O abstrato cega aqueles que já não enxergavam nada
além do ego confuso com a maturidade exigida
pela terra transparente
que nos envolve em minérios desperdiçados
a cada oportunidade de absorver
a música das estrelas
de dançar o ritmo sutil que nos convida um novo dia


Até que falte a luz ou descarregue a bateria
até que um novo rumo faça sua vida
naturalmente tomar outro caminho
consolidar os amadurecimentos de outrora
meditar em novas possibilidades
de superar outros limites
uma forma de, ao olhar para dentro,
transformar o outro


A rede é o vício que neutraliza a terra
desgarra a expectativa da ansiedade pela novidade
suga o olhar para a mera atenção do movimento
como uma maré que afoga o ânimo pelo fôlego
desaprendemos o que há muito já era esquecido
redemoinho em que alienamos os nossos sonhos


Transcender é estar no olho do furacão
e ainda assim poder ver o outro lado
não ser dependente dos próprios vícios, nem alheio
ter a humildade de aprender apenas observando
e absorver o minério 
que as maiores esponjas sementes
ainda buscam confusas pela alegoria dos tempos