quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Compartilhando Solitários Sonhos

Eu penso que sei da febre que apugenta os corações
da solidão que rasga o peito quando não entendemos
os explícitos motivos dos caminhos que percorrem nossos passos

Amanhã não seremos mais os mesmos
nem daqui a pouco eu sei, ou talvez penso
que pode haver uma razão para tudo isso
para essa eternidade constante que habita cada segundo

Uma saudade enorme dos cheiros daquela juventude
em que a responsabilidade era vaga e desconhecida
quando os preços não nos doiam na cabeça
nossos medos de não ser suficiente apenas uma vida
para conquistar aqueles loucos solitários sonhos plenos

E quando desce amarga a lâmina das escolhas
levando toda a segurança para o espaço
enforcando a razão com mãos de gigante
há apenas aquilo que somos em essência

Mas um pouso de borboleta abre os olhos
como se fosse um gole à vida que atormenta
nossas veias vão pulsando insatisfeitas
martelos de diamante da rotina que arrebenta
brindando o intransponível muro da imaginação
de todas as vãs lamentações que pensam
pesam nas pálpebras de nossos sonhos arredios
brilham as espadas das irradiantes estrelas

Anos-luz atravessando o escuro espaço
nas solitárias explosões em nossos seios
passado distante de todos os futuros antes
liberdade contida condensada ao desprezo
instinto selvagem que aniquilamos moralmente
por todos os ópios óbvios pelo tempo
ignorando a dor essencial e latente
para enfraquecer os músculos do espírito
e redobrar os círculos dos passos do caminho

Eu sei, ah eu sei que certos sonhos são utópicos
mas como sentir sua textura nas mãos,
todas as cores dos cheiros da memória
tudo que em 26 anos foi imutável
o amor pelo que se pode aprender com um verso
fragmentos de canções como a verdade em cacos
mas se não vemos face a face o que temos
é a odisséia de reconstruir cada pedaço
desse épico que é o amor e a vida
e a possibilidade de transformar e compartilhar palavras
que voam eternas além do vento e dos tempos

Escrito ao som de Wilco / Impossible Germany  http://sharebee.com/c1679f87




Foto adaptada do site: http://www.flickr.com/photos/fabio_dsp/2891232392/

7 comentários:

  1. O melhor, acredito, que já li. Um misto de emoções...trouxe lembranças da infância, dos cheiros, medos, dores e anseios, mtas vezes engolidos, sufocados, num cerébro cansado e inconstante.

    A contínua vida repete os mesmo versos.


    Abraço!

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  2. Nossa Day que saudade!!! Fico feliz que gostou! Escrevi esse texto aí porque tá chegando o dia do meu aniversário e eu sempre fico mais melancólico nessas épocas. Outra questão foi porque tem alguns (muitos) amigos meus que fazem aniversário agora em setembro e em outubro, daí, entre outras intenções, tentei escrever de uma forma que pudesse fazê-los refletir o quanto a gente vai se distanciando aos poucos ao ficarmos mais velhos e o quanto eu acho isso pode ser negativo. Sinceramente pensei que ninguém ia gostar muito desse aí, usei uma linguagem excessivamente melancólica, às vezes até sombria, ironicamente para a reflexão do oposto.

    Vê se não some! Vamos marcar alguma coisa com a Su a Naty e o Lê? Bjão!

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  3. Eu tb fico assim quando estou perto de ficar mais velha. Engraçado e estranho, né? A gente pensa mais ainda na vida.

    Eu gostei, acho que estava exatamente em sintonia com o que estava pensando ultimamente.

    Tb tô com saudade, vamos tentar sim!
    Bjos!

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  4. Johnny, gostei muito do texto, só há uma parte do meio dele que me perdi um pouco na primeira leitura, sinto algo semelhante ao que você escreveu, acho que é a idade 26...kkk
    O que acho que ficou mais marcante nesse texto é a questão dos tempos psicológicos, sabe? Pois vão além da idade, é uma juventude, ou a época do teatro (meu caso) a época dos bares, coisas do tipo... e dentro desses tempos vejo muitos ares de mudanças...

    a frase que mais curti foi "Uma saudade enorme dos cheiros daquela juventude
    em que a responsabilidade era vaga e desconhecida"

    Parabéns e que a idade não nos afaste dos sonhos...

    Abraço

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  5. Fico feliz que gostou Góis! Gostei do seu comentário. Não sei se consegui deixar claro tudo que quis transmitir, mas a idéia era que não ficasse tão claro em uma primeira leitura mesmo. Minha intenção foi exigir um pouco mais da atenção do leitor, usando algumas frases como "buracos racionais" de fácil interpretação para causar curiosidade, e misturá-las com "máscaras de linguagem" em frases mais cinzentas como "liberdade contida condensada ao desprezo" que é relativamente mais difícil de pensar em um referêncial de exemplo pra ajudar a interpretação do todo.
    No caso dessa frase especificamente minha intenção foi contrapor a liberdade que pensamos que teremos quando ficarmos mais velhos, com a falta de liberdade que as responsabilidades nos acarretam.

    Agradeço o comentário! Grande abraço!

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  6. Quão complexo é completar mais um ano de vida... São diversas as sensações, ainda mais quando se faz tantos planos e esses "martelos de diamante da rotina que arrebenta" vêm nos atrapalhar. Mas que em todos os anos, possamos alcançar a plenitude e encontrar a harmonia para viver bem com o universo de ações, principalmente viver com a consciência tranquila por ter ao menos tentado. Desejo-lhe mais um lindo ano, bem vivido e com a minha companhia!!! =)
    Beijos de amor!

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    1. Amor acabei de perceber que muitos dos seus comentários eu não deixo resposta escrita aqui, acabo ou falando pessoalmente, ou te transmitindo com o fluxo da minha vida. Gratidão por ser minha companheira por todos estes anos! Que o nosso amor seja sempre uma comunhão plena de virtudes e curas para nós e para nossos irmãos!

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