Será que devemos fugir das dúvidas, ou buscar através de verdades absolutas sanar essas dúvidas? Para mim nem uma nem a outra. Existe um caminho do meio onde podemos encontrar o equilíbrio entre a dúvida e a certeza. A dúvida é o extremo oposto do apego, a certeza é o extremo oposto da dúvida. A certeza é o próprio apego.
O caminho do meio é a experiência e sabedoria espiritual através da transcendência.
Nesse blog abaixo há uma interpretação semelhante a minha sobre o assunto:
http://wagnerpel.blogspot.com/2007/07/dvida-o-preo-da-pureza.html
A Dúvida é o Preço da Pureza
"Eu vejo o horizonte trêmulo, eu tenho os olhos úmidos/ Eu posso estar completamente enganado/ Eu posso estar correndo pro lado errado/ Mas 'A DÚVIDA É O PREÇO DA PUREZA'/ E é inútil ter certeza" (Gessinger dos Engenheiros do Hawaii - Infinita Highway)
Esse trecho da canção faz alusão a um conto de Jean-Paul Sartre, contido no livro O Muro. Essa estória se chama A Infância de um Chefe. Conta a história de Lucien, um sujeito que desde criança sempre desconfiou das verdades absolutas, como, por exemplo, que sua mãe era mesmo sua mãe, é como se ele imaginasse que vivia em um "Show de Truman". Ele sabia que nesse mundo ninguém é de fato aquilo que é, ou seja, cada um tem um papel nessa "comédia humana". Fica indiferente a que papel assumir, já que no fim das contas todos se equivalem.
"Quem sou eu? Eu olho a escrivaninha, olho o caderno. Chamo-me Lucien Fleurier mas isso não é senão um nome. Eu me exibo. Eu não me exibo. Não sei, isso não tem sentido. Sou um bom aluno. Não. É aparência – um bom aluno gosta de trabalhar– eu não. Tenho boas notas, mas não gosto de trabalhar. Não detesto o trabalho tampouco, não lhe dou importância. Não dou importância a nada. Não serei nunca um chefe. Pensou com angústia: ‘Mas que vou ser?’ Passou um momento; coçou a cara e piscou o olho esquerdo porque o sol o ofuscava. ‘Que sou eu ?’ Havia a bruma, enrolada sobre si mesma, indefinida. ‘Eu !’ Olhou ao longe; a palavra soava na sua cabeça, talvez se pudesse adivinhar alguma coisa como a ponta sombria de uma pirâmide cujos lados fugiam, longe, na bruma. Lucien estremeceu e suas mãos tremeram: ‘É isso’, pensou, ‘é isso. Tenho certeza: eu não existo’." (SARTRE. Editora Civilização Brasileira, 1963, p. 135).
"Bem posso suportar um pouco de dúvida: é o preço que se tem de pagar pela pureza" (SARTRE. Editora Civilização Brasileira, 1963, p. 166).
Não podemos conhecer a verdade, e não conseguimos viver na incerteza da falta dela, deve ser por isso que inventamos a cultura. Quando não sabíamos de onde viemos inventamos Deus para nos explicar, quando Deus não dava conta da explicação criamos a ciência. O mais engraçado é que em toda existência do homem na terra, ele sempre disse "agora eu sei quem eu sou, de onde vim e por que estou aqui".
Mas voltando a frase, a pureza citada é a de não saber a verdade, por exemplo, quando somos crianças, a dúvida da existência do Papai Noel e de outras "verdades" é o preço que pagamos pela ingenuidade. Pois é sempre um grande choque quando descobrimos que tudo não passava de uma mentira bem contada, deixamos de ter dúvidas, deixamos de ter pureza. Deve ser por isso que as crianças nascem sábias, cheias de dúvidas, e morrem burras e cheias de certezas.
Seu blog é demais, John John.
ResponderExcluirEu aprendo muito com você, obrigado.
Agradeço Di! É muito bom aprendermos sempre uns com os outros!
ExcluirGrande abraço!
Brilhante. Obrigada, John, você entrou na minha mente. É como a compreensão da minha própria angústia.. e entender como me entender. rs.
ResponderExcluirOBS: Preciso conhecer o Lucien.
Vou ficar com isso, no fim:
"Deve ser por isso que as crianças nascem sábias, cheias de dúvidas, e morrem burras e cheias de certezas".
Eu que agradeço Day!!!
ExcluirFico lisonjeado de ter entrado em sua mente.
A cada compreensão de nossas angústias vamos evoluindo e dissolvendo-as. Por isso é importante não termos medo das dúvidas. Por outro lado, precisamos tomar muito cuidado para não ficarmos cegos com as certezas.
Grande abraço!!!