sexta-feira, 13 de abril de 2012

Âncora Pluma

É preciso se permitir ficar triste de vez em quando
se for preciso até se aprofundar na loucura da tristeza
mas saber que a felicidade é um tipo de amor leve
que sempre retornará para a superfície do que não é supérfluo
o conforto é um grande aliado de vez em quando
mas quase sempre é uma forma de nos acorrentar em nós mesmos
é preciso ter paixão pela vida, paixão pelo amor,
e saber valorizar o cinza da tristeza
uma fotografia sem cinza há pouca harmonia com a vida
nem se compara a intensa dissonância de um verso torto
um pouco de controle não faz mal
mas o excesso cansa pelo erro
de acreditar que nada disso também vai passar
a dor da morte de alguém querido também
se transformará em doce âncora pluma
o vento dissolvendo as rochas em branca areia
o amargo conhaque dissolvendo más lembranças
é preciso não temer o mal como fosse um inimigo
dar vazão ao instinto do fe e do menino
para não andar em círculos na pressa
de resolver tudo como um filho tão mimado
perdendo o equilíbrio inconstante da natureza
lotería de insensatos caminhos múltiplos
é preciso abstrair absolutismos
um pouco de motivo um pouco de arte inútil
distanciar o sonho do produto
fazer valer o contínuo aprendizado
navegar um pouco impreciso é preciso
para deixar a terra mudar o lugar
e não mais se acomodar no conforto que só engorda
não mais ter medo de arriscar doer a alma
deixar o vazio do que é óbvio e vil
e não mais buscar apenas a estabilidade do que é seguro
pois amanhã pode ser também o seu dia
de viver para sempre, ou morrer apenas... 

2 comentários:

  1. Algumas partes da sua poesia me lembraram um trecho de uma canção do Vinícios de Moraes:

    "É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim como uma luz no coração, mas para fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza, é preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba não".

    Gostei do seu post, ele me parece um pouco "vomitado" no melhor sentido do termo, algo meio que a necessidade de escrever... Não sei se é esse o caso, mas é o que me passa.

    Parabéns, abraço!

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  2. Muito obrigado pelo comentário Gois! Pelo visto você entendeu bem a mensagem, neste poema acho que fui bem direto e objetivo realmente.
    Às vezes é preciso subestimar um pouco a capacidade das pessoas de interpretar o texto e ser menos obscuro, ou abstrato talvez, em outros momentos, pela possibilidade ou característica do tema, é necessário ser leve como uma pluma para falar de grandes icebergs. Não sou um grande fã do Vinícius, gosto de algumas como esta que você citou e outras parcerias dele com o Baden Powell, ambos possuem esta habilidade de falar sobre coisas alegres e tristes de maneira única. Do lado de cá do olimpo sigo tentando um dia alcançar tal reconhecimento. Grande abraço meu caro!

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